segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

ENTREVISTA JORNAL DO COMÉRCIO

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Jornal do Comércio

23/2/2009

Midas da joalheria gaúcha

Única gaúcha a integrar o catálogo Jóias Brasileiras, de Mariana Magtaz e considerado "Bíblia" da joalheria nacional, a designer Valéria Sá é uma artista versátil. Trabalhando com materiais inusitados, que vão de moedas antigas ao mais nobre do ouro, ela dá à fabricação de joias um novo conceito, mais moderno e versátil. Há 12 anos no mercado, ela elabora peças customizáveis e afirma que "o Brasil é um país rico em pedras e materiais".
A joia que integra o catálogo é um par de brincos, batizado pela artista de Cascata rosa. Confeccionado em ouro branco, brilhantes, kunzita rosa e pedras brasileiras com tratamento em cobalto, é peça única que não está à venda. No brinco foi usada tecnologia nuclear no tratamento das pedras, feito pela empresa Embrarad, a patrocinadora do livro. A irradiação de gemas com cobalto-60, explica a designer, apenas acelera a coloração, o que poderia ser propiciado pela própria natureza em milhares de anos. O processo usa tecnologia de ponta e leis químicas. "Uma pedra com um colorido esmaecido ao passar pelo processo custa cem vezes mais. É uma mina de ouro", explica Valéria.
As peças da designer custam entre R$ 30,00 (as de prata) e R$ 30 mil (as de ouro). Ela trabalha as coleções dentro de temas, e tudo serve de inspiração. Poemas de Fernando Pessoa, por exemplo, viram nomes de peças. A última coleção que a artista colocou no mercado chama-se Jóias de Princesa e foi elaborada com sua filha, Manuela, de sete anos. Além do Brasil, a designer está exportando suas peças para Portugal.
Outro grande filão da joalheira são as reformas. "Hoje em dia ninguém tem dinheiro para investir em peças muito caras", por isso, a maioria das transformações feitas em seu ateliê é a das chamadas "joias de família". Valéria acrescenta que tem "muito cuidado em fazer todo o acompanhamento do trabalho". Quando o cliente chega com a peça, ela senta e discute o trabalho com ele. "Mesmo virando outra peça, continua sendo a mesma joa, pois o material usado é o mesmo, ele foi apenas modificado", explica. No conceito da customização, mesmo as joias novas elaboradas pela artista têm mais de uma função. Os brincos, por exemplo, podem ser usados em até cinco formas diferentes, dependendo do modelo. A artista acredita que "dentro daquela ideia de que ninguém tem muito dinheiro para investir em joias, essa é uma alternativa bem de acordo com os nossos tempos de crise".
E por falar em crise, a joalheira lembra que nos últimos tempos os custos dos materiais básicos de seu trabalho subiram vertiginosamente. "O preço do ouro foi o que mais se elevou", lamenta. Ela costuma buscar as pedras usadas em seu trabalho em Minas Gerais. "É um dos maiores centros de pedrarias do mundo", diz, contando que também usa pérolas cultivadas (mais baratas) e naturais. Essas, dependendo do lugar onde forem pescadas, chegam a valores que podem bater à casa dos US$ 10 mil a unidade. "São raras e lindas".
Mas não são somente os artigos caros e raros que compõem o trabalho de Valéria Sá. Nas mãos dela, até materiais inusitados viram arte. É o caso, por exemplo, das pedras de leitos de rios e até de tampinhas de cerveja, que ela transforma em brincos e pingentes. Além disso, as peças elaboradas pela joalheira normalmente têm mais de uma função. Além dos brincos que podem compor vários modelos, os cordões de pescoço se transformam em pulseiras, e assim por diante. Em suas mãos, assim como na lei de Lavoisier, tudo se recria, se transforma, se modifica. E tudo vira arte.

errata: A designer gaúcha Glória Corbetta também tem seu trabalho publicados neste livro.

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